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Essência
À simplicidade da definição de essência não corresponde uma similar unanimidade nas maneiras de interpretar o conceito, que é dos mais debatidos em filosofia.
O termo essência designa o ser, a consistência ou qüididade de um ente, considerado independentemente da sua existência. Dizer o que é uma coisa é declarar a sua essência.
Na filosofia grega até Platão, a essência - eidos - tem a conotação peculiar daquilo que, numa coisa, é permanente e central, em oposição ao transitório e acidental. Para Platão, a verdadeira realidade está na essência, na forma pura da coisa, subtraída à tela aparente da existência. Com Aristóteles, essência designa apenas a definição de uma substância, que é, esta sim, a realidade verdadeira: o real existe apenas sob a forma das substâncias individuais, ou entes singulares: este homem, este cavalo, estes cosmos, este Deus. As espécies - coleções de substâncias que têm logicamente a mesma essência - não são irreais, mas constituem uma forma deficiente, ou derivada, de realidade, a "substância segunda".
A reflexão sobre a essência constitui um tema importante da filosofia medieval, na medida em que o uso aristotélico do termo colidia com o conceito cristão de Deus: como Ser absoluto e eterno, Deus só pode ser concebido como existente; logo, sua essência não pode ser pensada independentemente da sua existência. O termo essência, portanto, não significava a mesma coisa quando aplicado às criaturas e a Deus.
Mais tarde, Spinoza radicalizou essa linha de considerações, chegando a conseqüências metafísicas que a filosofia cristã viria a rejeitar. Definindo essência como aquilo que é concebido em si e por si independentemente de tudo o mais, e que portanto existe necessariamente, Spinoza concluía que só Deus é verdadeiramente essência, e portanto o único Ser realmente existente.
Com Hegel, essência (Wesen) adquire o sentido de uma determinada "fase" no processo de constituição do absoluto. Este aparece primeiro como ser, logo em seguida como "verdade do ser", ou essência, e finalmente como unidade do ser e de sua manifestação: a verdadeira essência é aquilo que se patenteia na plenitude. Para Edmund Husserl e a escola fenomenológica em geral, essência é uma qüididade "irreal", porém "verdadeira", que só pode ser concebida mediante uma renúncia provisória à indagação sobre a sua existência e uma penetração no reino das puras idealidades lógicas.
Alguns existencialistas, como Sartre, usaram o conceito de essência de uma maneira peculiar, dizendo que no ser humano a existência precede a essência e é independente dela: primeiro o homem existe, e, em seguida, por suas decisões, se constitui como essência. Similar é o tratamento que Louis Lavelle dá a esses conceitos: essência e existência, para ele, estão compreendidas no Ser, que é a sua unidade e as precede. A dissociação e posterior reunificação de essência e existência se dá mediante o ato. A relação de essência e existência é diferente nos entes da natureza e no homem. Neste, segundo Lavelle, existência é a aptidão para se dar a si mesmo uma essência mediante um ato livre.