Quarta-feira

Faltam 2 horas e 50 minutos para o ano novo. Quase chorei com os votos do William Bonner e da Fátima Bernardes. Isso é patético.

Mas tudo bem: recebi um e-mail me felicitando. Era do Submarino.

"What are you doing new year's eve?"

postado por: guilherme Quarta-feira, Dezembro 31, 2008
Palpites pelo mundo:



O Natal chegou. Não sei se foram as madrugadas no trabalho ou se foi mesmo a vontade de descansar o corpinho um pouco, mas não desejei felicidades para quase nenhum dos meus amigos.

Ok, acabo fazendo isso quase todos os dias, em arroubos tolos.

Em troca, recebi hoje um e-mail com votos de feliz Natal e bom ano novo da assessora de imprensa da Basílica de Aparecida.

postado por: guilherme Quarta-feira, Dezembro 24, 2008
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Segunda-feira

Depois de 10 dias internado com hepatite, a Montanha Mágica de Thomas Mann começa a fazer todo o sentido.

E a gente nunca volta a ser o que era antes de subir para lá.

postado por: guilherme Segunda-feira, Novembro 10, 2008
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Sexta-feira

E se de repente tudo o que foi anotado nos últimos 30 dias desaparecesse?

O Yahoo se encarregou de fazer isso com meus e-mails enviados desde o dia 24 de setembro. De 24 de setembro a 24 de outubro até as 18h não sobrou nenhuma mensagem para contar história.

A última vez que isso me aconteceu foi há muitos anos, com meu velho hotmail. Ali havia boas mensagens muito pessoais, que eu procurava manter como testemunho de um tempo que já não existiria. Pois foram-se. Na hora deu até vontade de chorar (mas não chorei, arrá), e depois passou e esqueci tudo. Certamente eram besteiras de criança.

Mas sabe que hoje fiquei injuriado com esse negócio. Eram centenas de mensagens destes últimos 30 dias, muitas diziam respeito a questões sérias, profissionais, notas fiscais, números de conta, prazos, horários, diversos detalhes. E tudo se perdeu.

Não acho que seja nada irrecuperável. E também duvido que fosse reler tudo aquilo daqui a alguns anos. Se tivessem apagado mensagens aleatórias dos últimos 3 anos também não teria percebido. Mas todo esse último mês, é sacanagem.

Mesmo porque em alguns desses e-mails eu gostava de caçar pelo em ovo.

postado por: guilherme Sexta-feira, Outubro 24, 2008
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Quarta-feira

É engraçado como mesmo a pessoal mais racional do mundo (sim, sim, assim me considero) pode ser completamente torcida por um mergulho mais ou menos intenso em emoções.

Adoro esse estadinho de quase ebriedade:

Ven
que en esta soledad
no puede más el alma mia...
Ven, y apiadate de mi dolor,
que estoy cansado de llorar,
de sufrir y esperar
y de hablar siempre a solas
con mi corazón.
Ven, que te quiero tanto
que si no vienes hoy
voy a quedar ahogado en llanto...
No, no puede ser que siga asi,
con este amor clavado en mi
como una maldición.

Só preciso cuidado pra não tomar um porre.

postado por: guilherme Quarta-feira, Outubro 15, 2008
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Domingo

Só lamento uma coisa: ter perdido a sensação de primeira vez.

O Janer Cristaldo já escreveu sobre isso (e, frise-se, me fez sonhar com muita coisa ao descrever o som do gelo se quebrando debaixo do navio quebra-gelo sueco) e foi uma coisa que nunca me saiu da cabeça.

Mas falo isso me referindo à Inezita. Hoje, sábado, fui à casa dela, ficamos só os dois vendo fotos, lendo recortes antigos de jornal, lembrando letras de algumas músicas. E depois partimos para o Star City, para mandar ver uma feijoadinha. Temos uma intimidade antes impensada. Aliás, tenho com ela uma intimidade incrível, dividi umas angústias boas hoje. Contei o que costumo contar aos meus amigos (omitindo, claro, os detalhes que poderiam deixá-la mais chocada com essa juventude transviada) com uma naturalidade incrível. E ela não me encarou nem como neto, nem como moleque. Falamos de igual para igual.

Sim, isso é muito legal.

Mas agora quando vou a um show as minhas pernas não tremem, eu não choro, não fico sem voz.

Só me arrepio inteiro.

postado por: guilherme Domingo, Outubro 12, 2008
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Segunda-feira

Em uma fila de São Paulo, passada a 1h da manhã, encontramos um português.

E dessa vez não era eu que estava com a sanha puxadora de assunto, mas o amigo que me acompanhava. Um par de perguntas depois, começa uma conversa sobre diferenças culturais e outras coisas que sempre se perguntam quando se conhece um estrangeiro - ou se respondem quando você é que está viajando!

Rapidamente chegamos à questão imobiliária em São Paulo, e o português falou que havia encontrado um apartamento onde ia viver por um ano, enquanto estudava economia na FEA.

Lamentei, claro, porque havia perdido a oportunidade de arrumar um colega para ocupar o outro quarto do meu apartamento, já que o atual flatmate vai sair daqui no dia primeiro de setembro. E pedi que ele me indicasse algum colega estrangeiro que estivesse ainda à cata de um canto para viver.

Mas os astros conspiravam. Como ele não estava muito satisfeito com a idéia de morar com aqueles colegas, ficou logo animado e eu e meu amigo fizemos uma descrição detalhada dos cômodos deste apartamento. Anotou meus dados e prometeu entrar em contato.

Passou quase uma semana e o tal português não entrou em contato.

Mas na sexta passada eu estava indo à aula de francês quando escuto meu nome gritado na Cardeal Arcoverde. Era ele. Havia perdido o celular com todos os meus dados e estava maquinando uma maneira de conseguir me encontrar de novo - o plano era ir mais uma vez à mesma fila. Não foi preciso.

Mais uma vez ele anotou meus dados. No domingo, ontem, veio aqui conhecer o apartamento e adorou. Como é muito simpático e estrangeiro, do jeito que eu queria, topou alugar o quarto e eu topei dividir o apartamento.

O debut já foi ontem, em um bom jantar com amigos variados.

Aliás, um fim de semana intenso com amigos variados. Desde sexta até ontem à noite, uma curtição só...

E os próximos momentos de lazer prometem.

postado por: guilherme Segunda-feira, Agosto 18, 2008
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Sábado

O cigarro, esse companheiro...

Bebendo um uísque e fumando, me vem à mente o verdadeiro sentido do cilindro de tabaco e papel. É como se ao fumante faltasse algo à boca para ser completa. O uísque preenche, irrita mucosas, ralenta o movimento, o pensamento - a Elis, bêbada, certamente adicionava a pitada de coca ao uísque para poder cantar tão rápido como o faz agora ali no rádio.

E então o gesto quase automático puxa o cigarro, filtro amarelo, 10 mg de nicotina, do cinzeiro e os pulmões ávidos puxam o ar através do filtro, esse sexo protegido desse maldito fin-de-siècle, uma tragada funda, gostosa, intensa ------ mas vazia.

E por isso a uma tragada segue-se outra e outra. É preciso repetir. Lembra a sensação de criança pela primeira vez em cinema três D, os óculos ridículos e a mão, quase involuntária, tentando apanhar passarinhos ilusórios ali bem na frente.

O cigarro é o intangível. E ao mesmo tempo tão possível. Dois e noventa, nas melhores padarias.

postado por: guilherme Sábado, Agosto 02, 2008
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Sexta-feira

Impressionante. Descubro que meses depois meus 5 leitores continuam olhando esta bitácora! E todo mundo vendo sempre o post sobre os gatos de Istambul.

Hoje eu comentava como faz falta gente inteligente neste mundo. Fico estarrecido ao entrar em contato com pessoas como o Neschling. Tive de entrevistá-lo para um frila que estou fazendo, e o cara é simplesmente genial, de uma velocidade e uma clareza de raciocínio assustadoras.

Da mesma maneira o Zé Celso. Que homem. Completamente amalucado, e tão genial no seu discurso amalucado que dá vergonha até se enxergar como ser pensante ao lado dele.

O que me lembrou já as entrevistas que fiz para o documentário d'Ela com o Paulo Vanzolini e com o Renato Consorte. Aliás, o Zé Celso é da geração posterior à deles no XI de Agosto. Deve ter alguma coisa naquele centro acadêmico.

Ou, melhor, devia haver. Estar com gente inteligente fora dos limites do imaginável é dúbio: ao mesmo tempo em que te faz sentir uma ameba, te dá a sensação de que aqueles poucos minutos de convivência são suficientes para que o seu próprio raciocínio ganhe algum estímulo. Deixa a companhia do interlocutor se sentindo maior, mais crescido. Gosto de gente cuja companhia faz crescer.

Preciso morar com alguém de inteligência alucinante. E, por favor, nenhum gênio introspectivo - luz, ar, ventiladores!

postado por: guilherme Sexta-feira, Agosto 01, 2008
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Terça-feira

Trabalhando de madrugada a gente aprende a ser tolerante.

Primeiro com aquelas pessoas que de vez em quando estão na padaria tomando um copo de pinga em plena manhã de quarta-feira. Para quem acordou pouco antes é das coisas mais impressionantes e talvez repugnantes sentir o cheiro do álcool enquanto se compra pão e a Monalisa Perroni fala alguma bobagem no Bom Dia São Paulo.

Mas para quem trabalhou a noite inteira é a happy hour, vai dar um bom soninho para ir à cama contente.

Outra coisa é admitir que é possível dormir com barulho de obras, de bate-estacas, de crianças correndo e gritando. Quem consegue dormir durante o dia nunca vai ter problemas com vizinhos notívagos, apartamentos com vista para avenidas nem em prédios que têm a sorte de ter alugados os salões do térreo para bares de karaokê.

Se você usa a madrugada para ler os jornais do dia, então, meu Deus: dá a sensação deliciosa de onisciência. Todo mundo acordando desinformado e você já com os comentários dos analistas na ponta da língua.

Agora tem uma coisa: se você consegue se adaptar muito bem ao horário invertido, os dias de folga se transformam em dias de agonia. Eu por enquanto tenho só uma folga por semana, a madrugada do domingo. Vem cá, me diz: como se faz para reinverter o horário em um único dia? Impossível. O jeito é continuar acordado.

E esse "acordamento" já me deu tanta felicidade nos últimos fins de semana... Há três semanas foi a peregrinação pelas ruas do centro da cidade, todo mundo pobre, procurando uma boa cerveja ou um bar minimamente aconchegante na boca do lixo. Tudo para esperar as 5 horas da manhã e pagar menos no after hours da balada.

Há duas semanas a madrugada não foi tão produtiva e acabei amanhecendo de frente para a internet. Mas de todo jeito as coincidências da vida fizeram da manhã um deleite.

E agora, nesse fim de semana, mais uma madrugada com dose tripla: primeiro encontrei até o irmão na porta da casa noturna. Aí mudei para a de sempre, que estava com um público péssimo. Já acompanhado, voltei à do After Hours de antes, para terminar em casa de novo amanhecendo em deleite.

Calma: não tem nada a ver com a nova maionese.

Mas de tudo isso o melhor é que ninguém pode te chamar de vagabundo. E o porteiro já não sabe mais quando eu trabalho e quando eu me divirto.

postado por: guilherme Terça-feira, Julho 29, 2008
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Sábado

Reinauguro plagiando.

É que hoje de manhã estava lendo El País, o melhor jornal mesmo, e descobri que a Elvira Lindo, minha cronista favorita, conheceu no metrô de Nova Iorque um rapazinho jovem espanhol com quem travou amizade. A coluna do domingo passado era sobre ele, sobre a relação dos dois e sobre um documentário que ele está fazendo.

Bom, o que vou dizer agora não é o que importa nem o que me motivou a reinaugurar este espaço, mas vale a pena dizer: no texto ela colocava de maneira muito forte esse traço da personalidade das pessoas que deixam seus lugares natais - sejam cidades, vilas, estados países. Cada dia mais penso no valor de uma viagem e de um mergulho em outra cultura - ok, sei que estou me repetindo. Mas é que o Janer Cristaldo também elogia muito essa dinâmica do viajante, do descobridor.

Quem nasce em região de fronteira tem duas opções: ou olha desconfiado para o más allá e se agarra ao seu próprio país, afundando em um nacionalismo burro (com o perdão da redundância) ou então percebe que do outro lado pode estar um mundo muito interessante -- isso é o que diz o Janer e é assim que eu penso.

Mas, voltando, a Elvira dá o nome do rapaz. Fazendo uma pesquisa google encontro o blog do rapaz e fuçando um pouco me deparo com um post muito bonito, de uma conversa que ele tem com a empregada mexicana de uma lavanderia. O texto está em catalão e em espanhol, mas vale a pena o esforço para entender.

Como diria Maysa, "espero que vocês me recebam com o mesmo carinho com que eu volto para vocês".

Matí de dimecres a Harlem. Són les nou del matí però la xafogor del juliol es deixa sentir en uns carrers que ja porten unes quantes hores desperts. Passo per davant de la meva bugaderia i veig a la Rosa, una mexicana de vint-i-set anys que plega la roba amb ulls absents.

La Rosa està sola avui. Només el soroll d'un telenovel·la de la cadena Univisión trenca la infernal monotonia circular de les rentadores i secadores. Entro i no em veu: la Rosa continua mirant per la finestra. Li dic hola, no em contesta. Mirada perduda a l'infinit.

Blancs amb blancs, colors a un costat i la roba que no vull que se m'encongeixi més va directa a una altra rentadora. Col·loco la tarja, pago i sento com l'aigua comença a emportar-se el detergent del pre-rentat. Sembla que aquest soroll familiar desperti la Rosa qui em pregunta quan he arribat.

"Es que sabe, ayer me fui a bailar y he dormido muy pocas horas" em confessa tímidament. "Mis amigas me llamaron para ir a rumbear y como mi marido (un cantant de "rancheras") no trabajaba esta noche y podía hacerse cargo de los niños decidí salir con ellas". Li comento si vol un cafè i em diu que no, amb una mirada plena de picardia em diu "es que estoy a dieta".

La Rosa és la petita de 13 germans. Als 12 anys va haver d'abandonar el col·legi perquè els seus pares no tenien diners "¿sabe? mis papás solo pudieron pagar la educación de uno de los hijos. Mi hermano mayor fue el afortunado. Él pudo ir a la universidad y cuándo empezó a trabajar nunca retornó ningún peso para que los otros pudiéramos seguir prosperando". Li pregunto que va fer al deixar el col·legi i, amb un somriure d'orella a orella, em contesta "cultivar tomates".

"No te puedes imaginar lo bonito que es ver crecer una planta. Cuando era chica, yo tenía que atar las ramitas a unos alambres para que la planta creciera bien recta. Yo iba con mucho cuidado ya que mi jefe se enfadaba cuando una planta crecía torcida". La Rosa no para de parlar "¿Sabe? Mi pueblo estaba muy lejos de la capital y lo único que nos quedaba de comida eran los tomates y los pepinos que cultivábamos... Usted no puede imaginarse lo ricos que estaban estos tomates: rojos, frescos, no como estos que hay ahora en el supermercado que están rojos de afuera y verdes por dentro..."

"¿Pero usted no se aburría comiendo siempre lo mismo, comiendo tomates todo el día?", li pregunto i ella em diu "No, no... yo estaba bien feliz con mis tomates. Mira, cuándo yo estaba a punto de comerme un tomate, cerraba los ojos. Cuando lo mordía, me ponía a imaginar que estaba comiendo otra fruta: una piña, un melocotón, una fresa,..."

Instàniament li pregunto: ¿Y qué sabor tenían?

"Javier, no te lo podrás creer pero nunca he podido volver a comer una fruta tan dulce y sabrosa como esta"

postado por: guilherme Sábado, Julho 26, 2008
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Quinta-feira

Se os gatos de Istambul são diferentes dos outros gatos (sim, vou continuar com a minha masturbação mental particular), então os jornais gratuitos de São Paulo são os mais bizarros do mundo!

Vejam só, reparem bem: eu apanho o ônibus todos os dias no último ponto da avenida Professor Francisco Morato (aliás, um pedacinho do inferno). Milhares de pessoas fazem a mesma coisa, e os ônibus dali cruzam o rio sobre a ponte Eusébio Mattoso para pegar a avenida de mesmo nome e o malfadado corredor da Rebouças ou então pegam a Bernardo Goldfarb e atravessam outro pedacinho do inferno (rua Butantã, Largo de Pinheiros, Largo da Batata) para subir a Rua Teodoro Sampaio.

Nesse ponto de ônibus não são distribuídos os jornais gratuitos. Os dois entregadores do jornal estão a alguns metros, no semáforo, distribuindo-no para os motoristas parados no trânsito infernal.

E a capa do jornal de hoje, que eu vi por acaso aqui no escritório, é sobre o aumento das infrações mais perigosas no trânsito. Uma notícia de carros para motoristas de carros.

Segundo a reportagem do Paulo Henrique Amorim ("Olá, tudo bem?") no Fantástico da Record, o caos há de se instalar (são 700 novos automóveis por dia na cidade - e só os que recebem a placa da cidade, não entram na conta os com placa de outro estado ou os com placa de Cotia e afins) e vamos viver o imenso congestionamento do conto do Cortázar (Auto-estrada do Sul) às 19h do dia 14 de novembro de 2012.

Estou mais ansioso pra isso do que pra mudança da matriz energética do mundo!

postado por: guilherme Quinta-feira, Novembro 29, 2007
Palpites pelo mundo:



Quarta-feira

Segundo alguns, os cachorros de rua de Lisboa têm as patas mais curtas do que os outros cachorros, de rua ou não.

A mesma fonte me afirmou que os gatos de Istambul são diferentes. Mas não deu tempo de perguntar por quê, a Genalva chegou e buscou a minha fonte. Levou pra longe.

Lanço aqui então a proposta/desafio: por que os gatos de Istambul são diferentes? O que eles têm que os outros gatos do mundo não têm?

***
Depois de descobrir o e-mule, entrei para o mundo do soulseek. Acho que estou começando a ficar com a mesma agonia que me dá quando entro numa livraria (ou, em menor escala, a que me dá quando abro o meu guarda-roupa onde estão os livros (seria um guarda-livros?) que eu compro sempre e não leio nunca.

Quanta música no mundo. E pra tão longo amor, tão curta a vida!

postado por: guilherme Quarta-feira, Novembro 28, 2007
Palpites pelo mundo:



Andei pela rua e vi, juro, a poesia concreta.

No alto do andaime, debaixo desse sol senegalês, estava o operário com seu macacão puído e esbranquiçado de pó de obra (ó, edifícios, do pó viestes, ao pó voltareis). Pernas abertas e um pouco flexionadas contra o céu azul. Na calçada, cercado por fita preto-amarela, outro operário sob o sol, ao lado de uma pilha de tijolos. E era coreografado: o operário de baixo dobrava as costas, agarrava um tijolo com a mão e, com as duas, arremessava para o alto, numa perpendicular perfeita em relação ao chão. Calculada com precisão a força com que deveria arremessá-lo, o tijolo estacionava no ar por um instante, congelado, sem movimento de rotação, equilibrado no ar contra o céu azul. O seu segundo de liberdade era destroçado no instante seguinte pelas mãos do operário de cima, que o agarrava e arrumava sobre a laje em obras. Tudo isso em perfeita sincronia, ininterruptamente, de maneira a que o operário de cima realizava só a torção do corpo na altura da cintura, pés fincados na tábua do andaime, da linha imaginária que seguiam os tijolos no trajeto do chão ao infinito à laje posicionada do seu lado esquerdo, agarrando e apoiando, agarrando e apoiando.

Ditosos tijolos.

***
Sigo minha heróica e mesopotâmica missão para sair de casa. Mas está ficando difícil, cada vez mais. Não tanto pelas condições que se me apresentam, eu já poderia estar procurando com mais afinco, com vontade. Só que sou exigente demais.

Dar um passo em falso está fora de cogitação. Preciso, a exemplo do que consegui em Madrid, encontrar um lugar que me faça feliz, que seja interessante, prático, próximo. Perfeito. Preciso ter orgulho de chamar os amigos para me visitar, precisa ser aconchegante para receber sempre visitas, e bem localizado também.

E eu não quero que seja quitinete. Já pensei muito que morar sozinho talvez seja a melhor opção para mim, chato como sou, implicante, birrento. Mas quitinete não vai bem com meu estilo de vida: quero ter sala, quarto, cozinha, banheiro, lavanderia, espaço. Sonho distribuir tarefas de acordo com o cômodo.

Ao mesmo tempo, e sem medo de ser uma contradição andante, não acho que agüente viver sozinho de tudo. Acho confortável a idéia de compartilhar os espaços comuns da casa com alguém (falo sério, não penso em dividir só as contas), chegar em casa e ter alguém, ter vida e dinâmica que não as minhas. Tenho confiança de que compartilhando uma casa se cresce, de que o convívio faz crescer. E, por fim, sinceramente eu duvido de que eu seja capaz de lavar louça, limpar o chão ou tirar o pó se eu morar sozinho. Preciso ter alguém para quem fazer isso.

A escolha do bairro também não é simples. Quando estava na Espanha e essa idéia foi tomando corpo na minha cabecinha eu queria morar no centro de São Paulo. Acho que tinha me esquecido ou maquiado as ruas dessa região. Freqüentemente sou assaltado (com o perdão do trocadilho) por uma agonia. Podem me chamar de pequeno-buguês, mas acho muito pesado, não tenho estômago. Nem é questão de estômago, é a simples questão de prazer. Quero ter prazer ao sair a pé pela porta dafrente e andar pela rua, não angústia ou preocupação.

E de repente parece que tudo (e todos) convergem ao centro e que, se eu me mudar para outro lugar que não lá, estarei perdendo um momento (talvez histórico?) de mudança de perfil de uma região de uma grande metrópole.

Agora pensemos: onde eu estarei trabalhando daqui a um ano, dois anos? Dios sabrá! Logo, o que é um lugar perto?

Enquanto isso, minha família guarda duas geladeiras para que eu possa levar quando me mudar. Eu que tenho só um apartamento em vista, nenhuma previsão de mudança e ninguém para dividi-lo.

***
Sou pouco profissional, está decidido: eu não consigo separar amizades de trabalho. Ontem começamos a olhar e pensar em elementos de edição para o documentário, na ilha de edição que foi instalada na sala da minha casa.

Dos três presentes por lá, dois são desses amigos que de tão amigos dão vontade de chorar. Assim que a colega de trabalho menos próxima foi embora, nós três (liderados por mim, admito) degringolamos para uma aprazível tarde entre amigos, conversando e contando causos, tomando um uisquinho, fumando um cigarrinho.

É um presente eu ter esses (e outros mais) amigos que dão a sensação de segurança, sensação de ser pra vida inteira.

Confiaria meu corpo para que qualquer deles me arremessasse para o alto, em linha perfeita e perpendicular, para que outro me agarrasse e pousasse em segurança sobre uma laje.

Mas à sombra, por favor.

postado por: guilherme Quarta-feira, Novembro 21, 2007
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Segunda-feira

É, falei que não ia conseguir ficar muito tempo longe deste negócio aqui e acabei ficando quase uma semana inteira!

O feriado foi bem estranho: a preguiça tomou conta e no sono os pensamentos se assentaram absurdos. Dormi muitas vezes durante a tarde, bem coberto com a manta de lã (que dá a alergia na medida certa da preguiça). Sonhei com o estrangeiro, claro, com neves, carros, montanhas e retornos complicados.

Bebi também, não nego. Na quarta, pra celebrar o feriado que começava, foi o uíscão de sempre, na casa nova do amigo em ótima companhia. Na quinta foi família petit comité. Na sexta, de novo. O sábado já teve movimentação: fui à casa dos padrinhos (os melhores padrinhos do mundo) comer charutos da madrinha (os melhores charutos do mundo) e jogar Perfil e Imagem & Ação com padrinhos e primos. Bárbaro!

Domingo foi feijoada na casa da vovó.

E, ufa, acabou.

***
Hoje amanheceu com cara de segunda-feira da emenda. Chovendo akántaros. Esqueci o guarda-chuva em casa, mas por sorte não fui apanhado. E, no almoço, uma surpresa: fomos à Cantina Italiana que tem em frente, aonde raramente almoçamos. E estava sem eletricidade. As mesas todas iluminadas por velas em bonitos castiçais. Para combinar, a conversa foi sobre o sobrenatural: histórias de espíritos, de videntes, de mortes, de assombrações, do ET de Varginha. Uma hora e meia conversando como se fosse o final de semana, muito gostoso. Estará registrado na memória dos presentes como um almoço especial.

***
Acabou de me ligar a Cristina, lá da Espanha. Ficamos 45 minutos falando das nossas vidas! E justamente hoje, dia em que a rádio espanhola que eu ouço pela internet trouxe algumas boas surpresas. A primeira foi ouvir que estava chovendo granizo na cidade. Tenho memórias afetivas com o granizo, que caiu muito logo que eu cheguei. A universidade ficou coberta de gelo!

A outra surpresa foi mais impressionante: entrevistaram uma mulher que vai lançar um disco e fazer um show num teatro e que foi descoberta nas estações de metrô de Madrid cantando por moedas. Quando ela começou a cantar no microfone, me lembrei: era justamente a que cantava na estação de La Latina, a mais próxima da minha casa. Me lembrei na hora do timbre Alanis Morisete e do jeito Woodstock (quase escrevi Waterloo) de se vestir e de se jogar no chão. Memória afetiva de novo, lord.

***
A frase do dia é "Ypacaraí é a Pasárgada paraguaya". Foi a little paula quem disse.

***
Nossa, novidade monstro: meu irmão cortou os cabelos, as longas madeixas. Está tão bonitinho, tem que ver! Um corte de cabelo muda tudo. É até bom nesses tempos em que os skinheads atacam qualquer pessoa. Que horror! Isso só pode ser violência reprimida, coisa de quem não pôde jogar vídeogame na infância e matar monstros e pessoas perigosas com o joystick.

Queria poder dizer que é coisa de cu de mundo, mas a rádio espanhola me traz notícias não menos horripilantes daquelas plagas. Realmente tive um ano plácido, se descontamos os atentados ao aeroporto de Barajas.

***
Eu tinha mais coisas para escrever, juro que tinha. Mas fui esquecendo durante o dia, durante os dias. E amanhã é feriado de novo, senhor!

***
Continuo com a minha febre Daniel Santos, o novo cantor Porto Riquenho. Ah! Acho que ainda não contei aqui as peripécias deste senhor! Ótima oportunidade para voltar a escrever aqui después, más tarde.

postado por: guilherme Segunda-feira, Novembro 19, 2007
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De Mel
Mind the Gap
Em Preto e Branco
Torre de Papel
Poluição d'Idéias
suco
Tabacaria
La vie en rose
Retalhos do Mosaico




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