Por falta de contêineres para escoar a produção,
as indústrias moveleiras da região de São
Bento do Sul, no norte catarinense, e as cerâmicas de
Criciúma estão atrasando entregas, pagando multas
e arcando com custos salgados de estocagem. A escassez é
resultado da diferença crescente entre as exportações
e as importações brasileiras. Como exporta muito
mais do que importa, o Brasil despacha contêineres em
volumes superiores aos que recebe. Se a balança comercial
estivesse equilibrada, os embarques estariam normalizados?
A resposta é não. A carga percorreria estradas
esburacadas até o porto mais próximo, onde outros
carregamentos aguardam a vez de chegar aos navios. Se a pressa
fosse muita, que tal fazer como fez a Embraco, de Joinville:
recolher a carga já depositada em Paranaguá
e contratar frete aéreo a custo infinitamente maior
para não deixar na mão um cliente norte-americano?
A providência foi tomada porque o navio que levaria
os equipamentos não quis esperar na fila para atracação,
em razão da pouca velocidade de embarque e desembarque.
Mas, se ao invés de móveis e cerâmicas
a carga fosse soja, a situação seria diferente?
Também não. No pico da safra, as carretas disputam
o acesso aos terminais graneleiros em filas quilométricas
e só depois de muita espera o grão desce aos
porões. A falta de espaços adequados para estocar
a safra transformou os caminhões em armazéns
ambulantes estacionados nos pátios dos portos, bradou
o governador do Paraná, Roberto Requião, justificando
a fase crítica do congestionamento em Paranaguá.
Na verdade, por serem o último elo da cadeia de exportação,
os cais e atracadouros se tornam os pontos mais visíveis
de um problema que começa muito antes. No caso da soja,
por exemplo, as dificuldades iniciam ainda no campo, na capacidade
insuficiente de armazenagem. O atual estágio da infra-estrutura
brasileira resulta de uma mistura que inclui investimentos
escassos, doses de incompetência, marcos regulatórios
instáveis, planejamento deficiente e uma burocracia
capaz de tirar qualquer um do sério – gargalos
que adiam a pretensão presidencial de estrelar o espetáculo
do crescimento no curto prazo e prenunciam um perigoso apagão
logístico.
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Fila de caminhões no acesso a Paranaguá:
o agronegócio perde competitividade com os problemas
de transporte |
Para se ter uma idéia mais clara do problema, basta
analisar os dados do estudo “Transporte de Cargas no
Brasil – Ameaças e Oportunidades para o Desenvolvimento
do País”. Assinado pela Coppead, Escola de Administração
da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o levantamento
mostra que a densidade de infra-estrutura de transportes é
17 vezes menor do que a dos Estados Unidos. Aqui, são
26,4 quilômetros de hidrovias, ferrovias ou rodovias
para cada mil quilômetros quadrados de território.
Em área semelhante nos EUA, são 447 quilômetros
de estradas, trilhos e rios navegáveis. O atraso é
tamanho que o país tem números piores até
mesmo que os do Canadá, cuja maior parte do território
é coberta pela neve e praticamente inviável
para qualquer atividade econômica.
ntrar nos trilhos depende de investimentos vultosos, que
parecem cada vez mais distantes. “Ninguém vai
investir enquanto os marcos regulatórios do setor não
estiverem claros”, diz Wilen Mantelli, presidente da
Associação Brasileira de Terminais Portuários
(ABTP). “Hoje, não está definido nem qual
é o órgão responsável pelos portos
brasileiros.”
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